Uma responsabilidade imensa,comunicar-me com um universo desconhecido por minha personalidade tímida e pacata. espero que pacientemente me entendam.

sábado, 15 de setembro de 2007

TENHO MEDO DA MORTE

TENHO MEDO DA MORTE
Delano
Tenho medo da morte
como se fosse o medo da ultima verdade.
Sempre vivi no meio da mentira
pois foi com ela que aprendi a distinguir Deus.
Sem a mentira jamais saberia diferenciar
o bom do mau
Hoje aos 102 anos, ainda tão longe de tudo,
me sinto infantil
Não tendo em nada aprendido das coisas terrenas,
como poderei enfrentar
as desconhecidas faces da morte.
Em vôo plano,
a morte cobre a louca de flores secas e lama fétida.
A sombra sufocada pela luz do dia
ia pelos caminhos
sob os sons dos sinos
batendo, batendo, correndo, saltando e cantando.
Era um funeral de insanas almas
acompanhando a morta
e da própria morte na sua dimensão representada. Parecendo uma fuligem fina e escura.
São historias não contadas.
Ninguém viu.
Assim foi.
Aquela triste lembrança
se torna em energia pura,
linda, grotesca forma.
Digo, porque nasci nesse dia.
Passando... lá vai o enterro só de loucos.
A morte representada e de um bom humor incrível.
Parece um santo... de manto

SOFRER SOMENTE

SOFRER SOMENTE
Delano


Uma tristeza tão grande me domina
A alma que se ausenta, inerte e fria
Seguindo um rumo incerto e negro
D’um destino invisível e sem caminho.
Não retornarei jamais por não ter ido,
Com meus pés, feridos e ausentes.
No caminhar sobre pedras e lama
Formada pelas lagrimas do sofrimento
E dor constante de tua ausência

Não vejo montanhas nem abismos
Cujo horizonte inviso, sem norte.
Caminhos inexistentes
Sem vida e morte sem o cheiro
Do teu corpo que nunca tive
Teu amor extremamente belo
Meu amor grande e sofrido
Por não ter sido vivido nunca.

Surgirás um dia em minha frente
Com a intensa luz que brilha de teus olhos
Ofuscando-me os olhos cegos
Fazendo-me verter lagrimas ausentes
Sorrir, boca sem dentes
Sofrer somente.

QUE SEJA


QUE SEJA

Delano




Que sejas assim como sempre fostes
Tomando o rumo desconhecido,
Procurando-me, o destino
Incerto e vago, pois não existe a luz,
Nem o caminho, nem o amor.
Somente a inexistência da memória.

Quando vens ante mim, e choras
Por te fazer infeliz e solitaria,

Nas tardes iluminadas por velas
Dançarinas, tremulas,....
Sem ódio e sem romper as pedras,
E eu me desfaço em risos

Saio descompassado me partindo em trevas
E cego pela excessiva luz,
Me perco pelos caminhos do caos

Sejas assim, como fostes ate agora
Um vôo irrevelado sobre o voo

VELAS ILUMINADAS

VELAS ILUMINADAS
Delano
Quando vens ante mim, e choras
Por te fazer infeliz e solitaria,
Nas tardes iluminadas por velas
Dançarinas, tremulas,....
Sem ódio e sem romper as pedras,
E eu me desfaço em risos

Saio descompassado me partindo em trevas
E cego pela excessiva luz,
Me perco pelos caminhos do caos

Sejas assim, como fostes ate agora
Um vôo irrevelado sobre o voo

A HORA MARCADA

A HORA MARCADA
Delano



Marcando a hora
passa
o tempo
a vida acaba
sem sentir
a dor do nada
ate o fim

Da linha
traçada, continuada
cortada assim,
como a existência finda,
e eu não a vi tão próxima
da morte
vagas lembranças
trago na alma doce
recordação
de meu pai e de ti
de quem bebo a fria imagem
do amor.

Quero-te
Amar solitariamente
Alcançar o mundo
Eternamente
Viver
Ou morrer somente.

O PECADOR

O pecador
(Delano)

Quero pecar sempre.
Para sempre pedir perdão
Sentir a alma limpa, sempre.

Quando desejar o amor do próximo
Pecarei por amar em segredo
Um sentimento lindo e imenso
Sofrendo o degredo, o exílio
De quem sofre sem deixar sofrer
Mas que se sente perto no infinito

Olharei a passagem das nuvens
Por não suportar ver o chão que piso.
Procurarei o calor em teu frio querer
Pois, ao não saberes que te quero
Beijas minha boca como a de um pai morto

Tua beleza, tão rara, misteriosa, iluminando
O meu caminho ate a dor de quem não conseguira
Tocar teu corpo e o cetim de teu ventre
Como gostaria que fosse, real e puro
Como a eternidade de minha efêmera existência.
Peco por que te amo....


ILUMINURA

ILUMINURA
Delano

A janela aberta ao som louco das mentes perturbadas, sempre os loucos, morto entre ramas e flores secas perfumadas. A visão de passos iluminados por tanta luz, que a sombra me sufoca e me repele para a verdadeira dimensão dos loucos. Sempre os loucos...

É o barato do dia e esse vai parecer muito legal.

Linda a casa daquele gordo, tomando uisque no carro, de chofer de uniforme ridículo.

São úteis inúteis. Ser útil não é fazer muito de nada ou um pouco de tudo. Viver se desculpando pela gordura, envergonhado por sua riqueza desonesta, exercitando sua paralisia moral enquanto engendra seu próximo golpe. Aquele porco não vai nunca encontrar na mente o que destrói da natureza. Trabalha até a sincope, (vide a carranca vermelha) puro embotamento cerebral.

Diabos!... e o som que eu pedi ( sinal de interrogação). Por esses malditos pensamentos é que vivo levando topadas pelas pedras da vida.

O cérebro parado, guarda apenas sinais característicos de raciocínios e reflexos rápidos.
Um cérebro desse, grandemente condicionado é capacitado às vezes de tramar coisas fantásticas, enriquecendo suas burras mas empobrecendo a alma e o corpo.

O som perdido onde andara (acento agudo e de interrogação) O som que cantava sobre o enterro de uma louca feito por loucos, que loucura...
E o pensador será útil, (pergunta)... Là vem novamente eu pensando... “tamos fodidos”.

CRONOLOGIA

DELANO

Cronologia

1945- Franklin Delano de França e Silva
Buique, Pernambuco.
1961 recebe orientações de Abelardo da hora, W. Virgolino e Jose Cláudio
1963- exposição coletiva – Galeria de arte do Recife
Juvenato Marista de Apipucos
Seminário de Olinda
Galeria do Rosário dos Pretos –Atelië de Artes Sacra. Recife
1965-66- Respectivamente .segundo e primeiro premio em desenho do Salão de Artes Plásticas de Pernambuco
1965- Primeira Bienal de Artes Plásticas da Bahia
Seis Artistas de Pernambuco- Museu de Arte do Rio Grande do Sul
Integra o Atelië + 10 junto a João Câmara, Vicente do Rego Monteiro, Maria Carmem,
Anquises Azevedo, Montez Magno, Liedo Maranhão, Welington Virgolino
1966- Delano-João Câmara – Luciano Pinheiro- Galeria de Arte Teatro Popular do
Nordeste.Recife
1969- Trabalha como ilustrador no Jornal da Tarde, S.P.- Folha de São Paulo e outras
editorias
1972- Projeto Saci- T.V. Educativa do Instituto de Pesquisa Espaciais. São Jose dos
Campos
1974- Exposição individual no Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco.
Junto a João Câmara funda a Oficina Guaianases de Gravura – Recife.
Salão de Arte Global
Guaianases II- Fundação Cultural de Curitiba
Desenho em Pernambuco - Gatsby Galeria de Arte.
1984- Arte sobre Papel – MAM-São Paulo
1986- Cinco Artistas de Pernambuco – IBEU-R.J.
O Desporto na Arte – Escola Superior de Educação Escola Superior de Educação Fisica da UFPe
Projeto Três Visões- Fernando de Noronha – Pe.
Coletiva de inauguração do Museu de Arte moderna de Pernambuco MAMAM.
Guaianases II – Fundação Cultural de Curitiba
Guaianases III – Rio de Janeiro
Individual – Museu de Arte Moderna - Pe
2006- Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco – Olinda –Pe. Individual.
2007 – Exposição – Maria e outras Marias – Museu de arte de Pernambuco - Recife
Homenagem a Ariano Suassuna – Museu do Homem do Nordeste – Recife Pe.

A PINTURA DE GLAUCO OU VOCË COMPREENDE O CHINES

A pintura de Glauco ou você compreende o chinês
Delano


Como eu já disse...
A pintura de Glauco e o seu próprio pensamento, viajando por
longe da lógica, da vida que conhecemos, do espaço que convivemos, das regras de comportamentos onde a técnica e’despojada e os valores inéditos.
Por ai vai, a loucura, o senso da dor, da ira, a ausência da alegria e do sentimento de paz. Um olhar para o mundo de maneira louca ou lúcida onde a imaginação se locomove por lugares distantes, onde o que menos importa e a situação do bem ou do mal, do certo e do errado, mundo do qual
não existe nenhuma intenção de conserto ou salvação.
‘Tanto faz, nada importa’, os personagens que habitam o interior das telas assim nos falam. Não procure a comportada e estudada composição de figuras ou seres, mutilados muitas vezes pela própria margem da tela.
Os conturbados temas tantas vezes extraterrenos não são meros caprichos de uma imaginação alienada ou infantil, mas, uma cruel realidade do nosso tempo, da historia que fazemos distraidamente.
Um mundo paralelo tão verdadeiro quanto o que habitamos.
Uma pintura análoga e autentica na sua veridicidade




N.A.- E esse teclado chinês para americano E um inferno para acentos e quetais.....

DEPOIMENTOS DOS AMIGOS

Língua e ponta de faca.
Marco Polo Guimarães

Embora viva quase recluso em seu casarão na cidade alta de Olinda, o artista plástico pernambucano Franklin Delano de França e Silva, mais conhecido como Delano, esta atento ao que acontece no mundo e na província.
O que essa necessidade de isolamento e, ao mesmo tempo, avidez de conhecimento parecem revelar e’ uma personalidade que tudo quer saber, ver e analisar, mas com calculado distanciamento critico. O que não impede um certo envolvimento emocional.
Delano não escapa- nem o quer- ‘a revolta diante de um mundo que insiste na desigualdade social e econômica, na violência e na miséria, na mentira e na futilidade. Um mundo, a tal ponto, cínico que às vezes chega a afirmar que tudo isso faz parte do curso natural das coisas, não há o que fazer.
A aproximação cautelosa do artista, portanto, se faz com mão de pinça, em parte pela repugnância que tal matéria provoca, em parte por que assim fica mais fácil verificar criticamente os hábitos destes animais estranhos que são os donos e os vassalos do poder. Estes insetos que dançam em torno da fogueira das vaidades e dos oportunismos, em busca de celebridade e fortuna.
O mundo atual e’ uma grande superfície, na qual o olho bate e e’ refletido de volta, encandeado, tonto e cego. As pessoas substituem a falta de uma interioridade intensa por uma exterioridade exuberante. Tudo e’ corpo: regimes de emagrecimento, exercícios físicos, modelagens cirúrgicas. A matéria vale por si só e substitui qualquer outro valor. O que antes era mente sã e corpo são virou corpo são e mente opaca. Para cada neurônio atrofiado, um músculo dilatado. O que importa e’ a embalagem. O oco interior esconde-se atrás da atitude. E’ como a frase atribuída a Goebbels: uma mentira insistentemente repetida acaba se impondo como verdade.
As duas artes contemporâneas por excelência- musica e cinema- são artes de fruição coletiva e que podem ser facilmente transformadas em espetáculos. Geram sensações fortes para suprir a falta de emoções reais. Nos shows, a celebração tribal: tanto no palco quanto na platéia, braços e pernas em coreografias frenéticas, roupas coloridas, corpos seminus, projeções amplificadas, canhões de luz. Nos filmes, cenas que se sucedem em cascata vertiginosa, velocidade máxima, explosões sucessivas. O uso intensivo de artifícios para se anestesiar e não pensar. Uma sociedade não necessariamente feliz, mas alegre a qualquer custo. Tudo fast, fausto, falso.
E aqui se chega as’ armas do artista. Vejam a cena: ali esta Narciso-Narcisa, perante as vitrines- espelhos do shopping center, vendo-se belo e ou poderosa. Delano toma-o como modelo e o desenha com a unha, com o dente, com a ponta de faca no lugar do bico de pena.
O que se revela. O riso histérico por trás da maquiagem. Por trás da pose, a precariedade do ser humano. Ave Delanus! Morituri te salutant!.
Porque esta e’ a arte de delano, o desnudamento de uma época fútil e hipócrita. Arte exercida num desenho de rara precisão e expressividade. Este e’ um artista que manipula o lápis com a destreza com que o Zorro da lenda manipulava a espada, rasgando a sua marca no peito da vitima. Ironia impiedosa e sarcasmo. Ironia e sarcasmo, que, às vezes, podem vir misturados a uma quase simpatia por suas vitimas. De repente, vê-se que o rosto distorcido por trás da mascara que lhe foi arrancada. Como não lamentar tal ser tão exaurido de existência.
Esses acessos de piedade, no entanto, não são freqüentes. Na maior parte dos trabalhos as pessoas são vistas como elas mesmas se colocam na vida, em prateleiras: aqui os sarados, ali os balofos; aqui as fofas ali as feias; aqui os maravilhosos, ali os desesperados.
E’ preciso ressaltar, entretanto, que não finda ai o universo do artista. Delano não e’ somente um grande critico e um grande desenhista; e’ também um excelente pintor. Nos seus quadros a óleo, alterna a mesma critica social com assuntos diversos – Bandas de jazz,lutas de boxe, cenas de guerra, paisagens, auto retratos, mulheres nuas,- no trato dos quais salta a’ vista a habilidade na combinação das cores, o perfeito acabamento técnico, o domínio de diversos modos de pintar, atendendo sempre a’ funcionalidade do que quer exprimir. Se em suas caricaturas criticas usa a ponta da faca, em seus femininos usa a ponta da língua.
Seu domínio na construção do quadro reafirma a consciência das possibilidades geradas pela matéria pictórica. As figuras integradas organicamente com o ambiente em que são flagradas, operam uma harmonização e relativização de importância entre forma e fundo, núcleo e entorno. O quadro se enforma num todo compacto, completo, impactante.
Delano integra uma geração de artistas plásticos que valoriza, sobretudo, a imagem bidimensional bem trabalhada. Pertence a’ tradição figurativa pernambucana que vem de Vicente do Rego Monteiro e Cícero Dias, para se atualizar em artistas da nova geração com Rinaldo e Felix Farfan.
E Delano - desenhista, Aquarelista, gravador e pintor- honra como poucos essa tradição

Marco Pólo Guimarães


Delano: uma decisão
Alberto Cunha Melo

Por excesso de escrúpulos muita verdade deixou ate’ de ser pensada, muito poema deixou de ser escrito, muito quadro deixou de ser pintado. Contra esse vírus que ataca os hipocritamente delicados o desenhista Delano sempre esteve vacinado. Seus quadros não são gentis cartões de visita rodado aos milhares nas gráficas, dizendo o mesmo mentiroso cumprimento, mas cartazes de afeto e desaforo, com todos os afagos, raivas e urros acesos. São gestos absolutos em um mundo dolorosamente domado, perigosamente arquitetado a’ custa de muito estirar de língua e bananas para normas divinizadas ao tinir dos símbalos ou símbolos oficiais. Esse absolutismo necessário: “a arte sou eu”, mas do que nunca se faz necessário num mundo em que todos querem ser todos e poucos chegam a ser verdadeiramente alguém. Se esse “todos querem ser todos” representasse uma abertura fraternal para a vida, e não uma tentativa de a todos imitar a todos impossivelmente suplantar, seria uma atitude a merecer um festivo estimulo.
E’ difícil elaborar uma arte crítica (essa e’ a melhor arte de nosso tempo) sem assumir a raiva mínima capaz de nos pisar com força e “ falta de educação” as salas “ boníssima” e requintadamente silenciosas. Ou, por outra, assumir uma louca bondade, das certas, que se esbanjam de tanto existir. Apenas com verdade interior, que não e’, nem deve ser necessariamente a verdade aclamada, se pode fazer uma arte verdadeira. O artista Delano viajou, teve muitos contatos com monstruosos cosmopolitas e extremosas damas.

O que disse João Câmara:

Delano é obstinadamente figurativo na composição dos jogos dramáticos que urde para o “comportamento” de seus atores. Com isso paga o preço de criar uma obra dolorosa para si mesmo, alem de se expor ao ruído da rua e ser chamado de literário, discursivo ou sentimental. Por sorte, no entanto, mas não por acaso, ele não liga para isso. Vem fazendo sua obra há quase 20 anos
(1985) de maneira discreta e até escondida, estoicamente, incorporando a discussão das imagens “ de fora” ao seu próprio corpo de atores.
A arte de Delano e’ um teatro. Que tipo de teatro e’ esse, afinal. ( meu teclado não responde ao ponto de interrogação) Possivelmente um Teatro da Vida, feito por um pintor que não tem compromisso com a “carreira” e que não sofre as pressões da critica para fazer uma obra viabilizada no “circuito”. Vivendo em Olinda e respirando tranqüilo o ar da província interessa-lhe mais o desdobramento do seu trabalho num ritmo de tempo natural.
Neste teatro, apesar das mascaras e dos costumes, do esgar do autor, da dança dos pares ou do acido do pintor, a musica de fundo é a melancolia, a mesma melancolia dos fins de tarde numa Olinda velha e encastelada como a ilha de Morel, em queFaustine e seu séqüito, ao avesso da fabula de Bioy Casares, envelhecem e morrem.

O que disse o Pintor Jose Cláudio:

O tamanho da obra de um artista se mede pelo mundo que inspira, pelo rio que forma. É como uma língua, mas cada qual tem seu timbre de voz; há de parte a parte um mundo imenso a ser revelado. Esse mundo, em Delano, se descortina em toda a sua independência e máscula originalidade, no seu sentimento e sensualidade, num “blue”, uma atmosfera, uma melancolia tipicamente delaniana, personalíssima e rara. É até impróprio falar de Delano. Delano é um artista diante de quem devíamos ficar calados para não perturbar o sazonamento dos frutos de seu silencio. Nada nele é gratuito. Há algum tempo vi um quadro seu, um auto-retrato com uma explosão ao fundo: será um universo que se esboroou com a chegada de seu filho Vicente( interrogação) Delano sabe que não adianta se atirar a imagens, que o suco está muito no âmago do seu ser e continua fiel a ele mesmo, com grande dignidade.

João Câmara novamente.


Não pensei ser difícil fazer uma apresentação do trabalho de Delano porque conheço toda sua produção, mesmo aquela de sua formação, croquis e pinturas de em torno de 1962. Poderia me aventurar a falar das pinturas que não fez pois há sempre um claro propósito em deixar de fazer uma pintura - o que não acontece sempre quando se quer fazer uma pintura- digo isto tudo porque importa ver claro as opções do artista mais que seus resultados diretos ou imediatos quando é o caso de um artista que busca não uma escola ou um movimento mas a curiosidade em face desta dualidade; de um lado a esfera do Eu e do outro o plano virgem da tela ou do papel.
Deixarei de lado também todo este critiques porque é justamente a proximidade com a sua obra que invalida o palavrório, entendendo-se não me esquivo a apresenta-lo mas gostaria que, como se diz... o espectador, o publico, enfim tivesse também a compreensão tácita de seu trabalho como eu tenho...( poderia lembrar a anedota dos dois amigos que se entendia tão bem que nunca precisavam terminar frases para, nem mesmo precisavam iniciar).
Assim... ao espectador e respeitável publico, este roteiro silencioso mas não isento de surpresas que pode ser a exposição de Delano. Exposição que pode ser maior do que é; sem nenhum cansaço, que o desenho de Delano se desenovela de quadro a quadro,um só traço emfim que pode se condensar num pastel ou adiante enlarguecer no gesto de uma pintura ou se esfumar nas cinzas de uma lito.
1) Estas técnicas... coisas que interessam mais a alma do pintor que o fraseológico de espírito. Pintar, gravar, desenhar, nunca deixou ninguém rouco nem falto de veemência.
2) Gostamos de lembrar a frase do pintor americano; “Em caso de duvida use púrpura”. Enfim, uma opção máscula em vez da manuntenção de um discurso e de um tédio ou de um spleen. Assim pode-se encontrar num ou noutro quadro de Delano um toque de não conformidade em sua estrutura. Esta coisa que o consumidor de exposições inadvertidamente pode diagnosticar como desarmonia é não resta duvida, a púrpura da questão e esta é uma das melhores coisas na exposição de Delano e não um defeito, fiquem sabendo os senhores, principalmente os senhores que gostam de arrumar os quadros como pelotões de ordem unida.
3) Em todo caso, nenhum esquema montado: ‘a figura grotesca não corresponde o acido na alma do artista- tenho visto artistas mordazes extremamente cristãos – e embora não seja o caso de situar a piedade do artista exatamente como um dado técnico eis o miserere de Delano em relação a seus modelos imaginários e já se sabe bem... prototípicos.
4) Prototípico... já em si um belo nome para um modelo grotesco.
5) Se Delano, não esta interessado em contestar, contudo não o vejo de acordo e o vejo com memória acesa para as pinturas mais de seu agrado – Goia, Ribera alguns outros sádicos piedosos- o ato de aproximar-se de algumas morbezas em suma não é um ato de coragem, por acaso, numa época em que há flores, é certo, mas cheiram mal.
6) O caso de Goya, seu exemplo, pode ser didático e cruel; a constância da beleza compatível com os Caprichos e os Desastres mas não de um modo antonímico; visinhos e conhecidos, até apresentados. Aí o realismo
7) Estas mulheres que Delano gosta de pintar, Eu disse gosta de pintar, e vai ai a intenção não de propor uma coquete forma de eterno feminino mas de deleitar a sua técnica com seu modelo. Terríveis ou simplesmente bonitas, rigorosamente sensuais no sentido estrito, ou feias mas, por uma questão de deleite técnico, jamais incógnitas ou desinteressante.
8) Por ultimo, o fato do gesto ou substancia. Tem importância para o trabalho de Delano o espaço do papel para o gesto gráfico. Fazer caminhos de tinta, propriamente os labirintos de uma figura, esta uma maneira de viajar tão boa quanto qualquer outra.
9) Não há porta para fechar, À saída.


Olinda 1974.


O Poeta Jaci Bezerra

Assim, quero falar sobre o que vi, mas não encontro olhos nem palavras. Para meu consolo uma voz interior me diz que o mundo que meus olhos viram não deve, verdadeiramente. Cada um que veja. Cada um que sinta. E conclua, depois, que não existe trena para medir os encantos e as danações do mundo pelos olhos visitado. O universo de Delano, creio, possui múltiplas e variadas portas. Inúteis, pois, as tentativas de capturar ou medir as cores e as sombras que os olhos viram e deixaram escapulir para a lembrança. As cores e as sombras e as figuras amorosamente conquistadas. E a duradoura impressão, sim, diante do visto e do revisto, que esse mundo ficara ajustado no tempo como um depoimento de nossa época.
Tomar conhecimento da certeza, nem sempre bem alicerçada, de que as cores e as sombras, a pintura e o desenho, tem um significado interior mais forte e denso do que aquele rascunhado nas nossas impressões. A convicção, ainda, de que os espaços destinados à criação foram plenamente preenchidos. Isso sem perder a perspectiva de que outros espaços nascerão, também para serem preenchidos, para adquirirem uma existência pessoal, para fincarem alicerces novos no mundo. E nos olhos cabe revelar as formas e mostrar, como realmente mostram, a quem as conheceu e as admirou, no passado, como o mundo criado por Delano adquiriu um relevo novo, e nitidez das coisas amorosamente construídas.
Em que tempo, indagaríamos então aos nossos olhos, as figuras, as sombras e as cores desabrocharam nesse espaço.(falta o sinal de interrogação) Possivelmente não obteremos resposta. Aqui os tempos e as fases estão unidos. E as portas, cuidadosamente descerradas, revelam que o caminho de Delano tem sido um só: o do artista que se busca e se alcança, a cada traço, a cada cor, a cada quadro elaborado e concluído.

Recife – 1974


Outra de Jose Cláudio

Viagem adiada mas que tem de ser feita mais cedo
ou mais tarde, de uma maneira ou de outra, é uma descida aos infernos. Por que não faze-la implica em perenizar uma crise, morrer antes de ter sido. É uma viagem muito louca, secreta e emocionante, principalmente pela gratuidade, contra e a favor ao mesmo tempo de todos e ninguém, ansioso de modo idêntico por tudo ou nada, como quem promovesse a explosão do seu próprio OVO COSMICO e partisse por todos os caminhos para espiar da beira do Universo.
Que pode ser aqui, como em todos outros pontos menos aqui, e é por isso que o artista não pode deixar gleba sem ser vista e repassada, visitada de surpresa apesar de mil vezes conhecida, criador e vitima do seu olhar que cria. Na infinita constelação de seus mestres, Delano se sente na obrigação de confessar todas as dívidas, adquirindo assim a sua própria mestria. Bastam-lhe poucos quadros para viver experiências extenuantes. Drástico, impulsivo, mesmos nos pasteis mais amaciados trabalha com limite que exigem intervenção mais extrema do que a aconselhada a João Câmara pelo pintor americano: “em caso de duvida use púrpura”, que ali a púrpura é usada para os meios tons.
Estes pasteis apesar de demonstrarem um lado de ingenuidade, de boa fé de Delano, como se ele quisesse provar, a si próprio mais do que aos outros, a capacidade de detalhar direitinho uma figura, banha-la com a luz ambiente, tornam-se ao invés num delicioso deboche, dosado com um que de nostalgia acadêmica, coisa que, nele se constitui numa desenvoltura total.
Extensa e intensa, a exposição demonstra o trabalho constante, a capacidade de explorar os meios, seja aquarela, litografia, lápis, com grande propriedade, e, a percorrer toda a mostra, a segurança do desenho que é a terra firme de sua fantasia.
Resta agradecer a Macira ( mulher de Delano ) as generosas maçãs, a tornarem ainda mais simpático o Museu de Arte Contemporânea, cuidado por Mary Gondim
Olinda- 1974

Frederico Morais - da Exposição Cinco Pernambucanos - Galeria de Arte IBEU - RJ - 1986

"Nesta exposição quem melhor expõe esta faceta da pintura pernambucana é Delano. O tratamento ao mesmo tempo crítico e irônico dado ao tema da família padrão, não minimiza estas características. Esta família, como está no título, não é pior nem melhor que as outras: repressão da libido, a ascenção e o declínio social e econômico, a influência dos modismos culturais, a erosão do tempo, os conflitos e a luta pelo poder. Tudo isto é mostrado com um simples deslocamento dos personagens, dos filhos especialmente, na composição do retrato familiar, na indumentária ou com introdução de certos objetos, como o retrato na parede."

DO QUE EU GOSTO

Do que eu gosto
Delano
Gosto do figurativo como quem precisa conhecer pessoas, suas bondades, suas maldades. As pessoas que pinto e desenho não são numeradas, mas são tão livres quanto seu próprio silencio. Enfim, são reflexos psicológicos de personalidades insólitas, mas que me fazem companhia, me aconselham, me mantem vivo e que de alguma forma podem me matar. Se estou satisfeito com o que fiz até agora, estou insatisfeito pelo que ainda vou fazer. O artista nunca poderá se sentir realizado, a não ser quando morre de velhice. Gosto mesmo é de criar. É na criação que manipulo minha liberdade. Desenho e pinto sempre, mesmo sem o papel ou a tela que revelam a imagem, fixam seu movimento e procuram traduzir a sua linguagem, o sonho e a realidade. O sonho antes ou depois do traço, a realidade que se expande e que acompanho até círculos mais distantes,estimulando as linhas, as manchas, as dores ou sorrisos sarcásticos que encontro nos caminhos. Se um ponto, uma linha sinuosa, fraca, a mancha, a trama vigorosa modelam a expressão, na identificação com problemas existenciais, não cabe daí nenhuma obrigação de soluções que o artista nada tem a ver. Capto a forma no espaço sem direito de modificar as angustias, as alegrias debochadas ou sinceras de um mundo que não é de minha invenção.